terça-feira, 15 de dezembro de 2009

[00012] Emigração em Pombal (continuação de estudo anónimo e sem data)

Entrevista com o Presidente da Câmara Municipal de Pombal (Dr. Armindo Lopes Carolino).



Continuação

ENTR: Sr. Presidente, qual foi a reacção das pessoas?

A.C. Inicialmente foram soluções difíceis das pessoas entenderem, havendo até um caso ou outro em que as pessoas à revelia do que lhes era exigido construíram e a Câmara viu-se em meia-dúzia de casos perante situações de facto consumadas e acabou por compreender, de algum modo, o estado de espírito das pessoas e apesar de - na apreciação dessas excepções, nunca ter deixado de chamar a atenção para o facto de uma irregularidade de base de um facto consumado, acabou por regularizar essas situações, porque eram realmente excepções. Julgo que haverá no concelho, quando muito, um ou dois casos que não estejam regularizados e não estão porque os interessados não desenvolveram esforços nesse sentido, mas a abertura da Câmara é de modo a evitar um mal maior aos requerentes, dizendo muito embora que não se devia legalizar, etc., etc. acaba por legalizar para evitar demolir.

ENTR: Um dos aspectos também importante desta emigração são as remessas que os emigrantes enviam para o nosso país, muitas vezes para a sua área geográfica de origem/saída. É notório o investimento em alguns sectores, nomeadamente na área da construção civil.

A.C.: Exacto. O emigrante foi durante muito tempo o mercado preferencial da imobiliária, portanto, quer na imobiliária construída de raíz nas suas aldeias de origem, onde melhoraram ou construíram de raíz casas que já tinham e, numa segunda fase, dado o investimento produtivo, adquirindo parcelas de imóveis ou vivendas e propriedade horizontal na sede do Município ou em cidades vizinhas, nomeadamente, Figueira da Foz, Coimbra e também Leiria ou até Nazaré, Entroncamento, Algarve, isto já numa segunda fase. Também no aspecto do comércio e serviços se nota sobretudo nas aldeias e onde houve regresso de emigrantes, um investimento nessa área, através da abertura do talho, do mini-mercado, do café, que são, digamos, pequenas unidades ou médias unidades de serviços às populações locais que uma melhor arrecadação de moeda nos países que os acolheram, lhes permitiram disponibilizar e fazer um investimento aqui em Pombal, ou nas aldeias donde são originários, ou nas sedes mais desenvolvidas, metropolitanas, portanto, onde na sua óptica as remessas podiam ser mais bem rentabilizadas.

ENTR: Pode-se falar também, ao nível da construção civil, não na aquisição de imóveis, mas mais no âmbito da construção. Sr. Presidente, acha que este facto tem sido significativo para a dinamização deste sector ou são casos pontuais?

A.C.: Há uma década a esta parte os investidores da construção civil de imobiliário para transacção comercial, têm alguns elementos ligados à própria emigração ou a empresas privadas em nome individual que ligadas à construção civil nos países onde estiveram, sobretudo em França, e que depois regressados a Portugal, já nessa época em que poucos regressavam, enveredaram pela construção civil; temos o caso de dois ou três empresários aqui da nossa cidade e de alguns que estão sediados em Freguesias constituintes do Município que, efectivamente, para além de terem construído para si e investindo nas suas vivendas, acabaram por ou em nome individual ou através de empresas que entretanto construíram, enveredar pela indústria da construção civil, não restando dúvida nenhuma que foi com base nos dinheiros da emigração e inicialmente também aproveitando as facilidades de crédito, que as empresas bancárias, sobretudo os Bancos que recebiam as remessas desses emigrantes, utilizando o quadro normativo em vigor que lhes dava possibilidade de recurso a crédito, portanto, nesses investimentos que foram aproveitados e que depois acabaram por construir, firmas que hoje são firmas sólidas e que mantém a sua actividade na área da construção civil.

ENTR: Outro sector onde foi significativa a "fuga" das pessoas que emigraram foi no sector da agricultura, podendo-se falar quase que numa desertificação dos campos, quer ao nível do trabalho quer ao nível da mão-de-obra. Até que ponto isso foi significativo para o desenvolvimento da indústria?

A.C. É verdade que esta mudança de base na economia de subsistência contribuiu para que o Município de Pombal recorresse exactamente a essa mão-de-obra agrícola, a qual de acordo com as estatísticas em determinadas alturas estaria na ordem dos 60% a 70%, para fazer face à transição de operários que depois se acabaram de qualificar através de outras coisas, que se recorreu, dizia eu, para reforçar a mão-de-obra no sector secundário (indústria) e hoje, na minha opinião, o sector secundário ocupa a maior quota de população de mão-de-obra activa. Portanto, o sector da indústria de Pombal hoje deve ocupar na ordem dos 40 a 45% dos activos, tendo a agricultura descido para a ordem dos 25 a 30%, mais ou menos nas mesmas proporções e percentagens que o comércio e serviços, portanto julgo que estes são mais ou menos os números em percentagem em que podemos fazer fé e dizer que realmente a subida dos activos, no sector secundário, se ficou a dever ou se fez essencialmente à custa de mão-de-obra de activos que até aqui teoricamente era mão-de-obra de activos da agricultura.

Nota da dona do Blogue: Esta entrevista é elucidativa da deficiente estruturação da nossa economia. Uma base de desenvolvimento comprometida na construção civil e empreitadas, leva, mais tarde ou mais cedo, à estagnação económica como tão bem, a recente crise mundial, exemplificou.
Nota suplementar: Não fizemos correcções formais nem de conteúdo, nestas transcrições - as deficiências de linguagem são reais, ipsis verbis, o documento original, o que nos permite aquilatar do nível cultural, tanto dos entrevistadores quanto dos entrevistados. Em Pombal é muito antigo este eclipse intelectual.

domingo, 6 de dezembro de 2009

[00011] Emigração em Pombal (continuação de estudo anónimo e sem data)


Entrevista com o Presidente da Câmara Municipal de Pombal (Dr. Armindo Lopes Carolino).


Continuação

ENTR: Não podemos entender isso como uma consequência da entrada na Comunidade Europeia, dado que há uma maior liberalização das fronteiras?

A.C.: Não. Eu penso que não por isto: é que a entrada na CE dará teoricamente, as mesmas condições a qualquer trabalhador proveniente dos Doze, no caso destas ondas migratórias e quem falava com eles sabia, que na realidade eles e elas não tinham as mesmas condições que os naturais desses países; por outro lado, e porque a Suíça, que era um dos locais de destino mais privilegiado por estes grupos de jovens, como sabe ainda não aderiu à CE e, portanto, não está obrigada a cumprir e a satisfazer todos os direitos que teoricamente o cidadão europeu goza em qualquer país da Comunidade Europeia.

ENTR: Ainda voltando um pouco às preocupações por parte do Poder Local, no mandato que está a decorrer e que tem como líder o Sr. Presidente, todo o desenvolvimento e as preocupações com determinadas infra-estruturas, nomeadamente, água, saneamento, etc... também directa e indirectamente têm contribuído para a fixação da população, dado que é criado um conjunto de condições que faz com que as pessoas se vão sentindo bem nas suas terras. Concorda?

A.C.: Sim é verdade, que as melhores condições de vida, as melhores hipóteses de construção de postos de trabalho que não se verificavam há décadas atrás, começaram a levar as pessoas a poder fixar-se melhor e a usufruir de uma qualidade de vida que há 10 ou 20 anos não era possível e que portanto se ia procurar noutro lado e hoje também o facto de pertencermos à CE, onde como parceiros comunitários somos obrigados a cumprir regras que são efectivamente regras de ouro da CE, no sentido de todos os cidadãos terem um tratamento idêntico perante a lei e perante as condições de vida. Foram efectivamente factores que influenciaram decisivamente, também, a fixação das pessoas, porque se as pessoas hoje disponibilizam de determinadas infra-estruturas que lhe facilitam a qualidade de vida antes de abandonarem aquilo que já é seu e que é adquirido, deixando de algum modo ao abandono, para ir hoje procurar melhores condições de vida acaba por influenciar decisivamente em determinadas opções que as pessoas tomam na sua vida privada.

ENTR: Sr. Presidente, tem-se verificado, nomeadamente a partir dos anos 80, o regresso de alguns emigrantes. Que medidas têm sido tomadas no sentido da reintegração dessas pessoas, nomeadamente dos filhos dos emigrantes.

A.C.: Não- há um pacote de medidas específicas para resolver problemas de ex-emigrantes que regressam. Agora o que me parece é que exactamente essa criação da melhor qualidade de vida, o apoio que se lhes dá quando eles têm problemas a resolver junto Administração, para a abertura de uma casa comercial, de um restaurante, o acompanhamento através dos serviços técnicos da Câmara Municipal de Pombal, facilitar a esses investidores que regressam determinados apoios e sobretudo no caminho burocrático, ajudando-os a vencer determinados problemas e facilitando-lhes a vida sempre que possível, são medidas que têm influenciado também a parte do apoio da Câmara e o Poder Local às pessoas/emigrantes que regressam e têm de algum modo sido eficazes.

ENTR: A emigração marcou imensamente o Município a nível paisagístico, o que, aliás, podemos constatar fazendo uma pequena visita pelo concelho, ou seja, a adopção de um estilo arquitectónico que não se compadece muito com o estilo da zona. Neste momento sei que as coisas já não se processam com tanta facilidade. Quais foram as medidas que a Câmara tomou no sentido de exigir a estes emigrantes um certo rigor em termos arquitectónicos e adequação àquilo que são as exigências do município?

A.C.: Pensamos que houve uma época que em termos de construções marcou aquilo que nós chamámos - época da emigração. Os telhados inclinados, lembrando casas da Normandia, por causa da neve, telhados pretos, telhados recortados, os ditos "greniers". Nós, e vincada que estava esta arquitectura, começámos por fazer uma acção de mentalização, começando a chamar os requerentes que apresentavam essas soluções arquitectónicas e tentando de uma maneira pedagógica esclarecer que aquelas construções não eram adequadas ao nosso clima e à nossa zona, que nós tínhamos uma arquitectura própria. As pessoas foram começando a entender, e depois numa segunda fase, reunimos todos os técnicos inscritos na Câmara, dizendo que quando apresentassem soluções dessa natureza a Câmara dificilmente as aprovaria e através deste trabalho, que foi um, trabalho moroso, mas ao mesmo tempo um trabalho de resultados conseguiu que hoje praticamente ninguém apresente essas soluções, tirando um caso ou outro esporádico que aparece porque as pessoas não têm conhecimento destas regras ou porque ainda estão imbuídas de uma certa influência dessas casas que viram nos países de acolhimento onde trabalharam esses anos todos e quiseram de algum modo transportar para cá, para a sua terra, essas soluções arquitectónicas. Hoje, já não é vulgar entrarem pedidos na Repartição Administrativa de Obras Particulares da Câmara Municipal, onde as solicitações dessa arquitectura de emigração seja solicitada, pelo que me parece, realmente, esse período ficou marcado mas hoje já não temos problemas dessa natureza.
Continua




terça-feira, 24 de novembro de 2009

[00010] Que nervos

Os jornais e as televisões de ontem noticiavam o aparecimento de processos judiciais, distribuídos por nove contentores  próximo do Palácio da Justiça, em Lisboa. E eu aqui, nesta parvónia, sem acesso a tanta documentação, certamente interessante. Mas porque é que eu estou em Pombal e ontem não passei por Lisboa?

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

[00009] Emigração em Pombal (continuação de estudo anónimo e sem data)


Entrevista com o Presidente da Câmara Municipal de Pombal (Dr. Armindo Lopes Carolino).


ENTR: Sr. Presidente, o nosso trabalho vai incidir sobre a emigração no período dos anos 60-70 e a actualidade. O Município de Pombal sempre atingiu altos índices de emigração, nomeadamente na década de 60-70, baixando esses índices na década de 80. A nossa pergunta é no sentido de sabermos quais foram as linhas de actuação do Poder Local, antes do mandato que assumiu, e que medidas têm sido tomadas para fixar a população.

Dr. Armindo Carolino ( A. C. ): Procurando uma justificação para o alto índice emigratório que se verificou no concelho de Pombal nos anos 60, nós podemos ir buscá-la, a uma economia muito débil das famílias, porque o concelho de Pombal era essencialmente rural/agrícola, de uma agricultura de subsistência com uma zona de Serra muito pobre, de muito difícil acesso e onde as pessoas praticamente viviam isoladas, trabalhando por conta de outrem, normalmente ao "dia fora" e com uma retribuição bastante parca, sem capacidade de poder responder às exigências que normalmente uma família tem em termos de poder satisfazer essas necessidades básicas, sobretudo alimentação, vestuário e qualidade de vida e, portanto, inicialmente a emigração faz-se clandestinamente, mais tarde já devidamente autorizada e depois, com a mudança da política administrativa do pais, as coisas mudaram e, já antes haviam condições de emigração legais, que as pessoas foram aproveitando. Já nos anos 60-70, a administração complementarmente com a iniciativa privada tentaram fazer algo que fixasse as pessoas e os capitais à terra, e nasceram, digamos, as primeiras empresas industriais devidamente organizadas e fixadas numa chamada Zona Industrial - A Zona Industrial da Formiga, que vêm no seguimento da actividade industrial, que se fazia sentir em épocas anteriores, nomeadamente no aproveitamento de resinas e de madeiras que eram, digamos, os produtos endógenos, mais fáceis de industrializar porque existentes em abundância nesta área geográfica. Entretanto a Zona Industrial da Formiga é levada por diante, no sentido de criar postos de trabalho, dando a primeira resposta para a fixação de pessoas e para de algum modo fazer um corte na emigração.
Posteriormente e já na década de 80 e por iniciativa do Município, complementarmente à Zona Industrial da Formiga, são iniciados os apoios a pequenas áreas industriais ou eixos industriais, nas diversas freguesias do concelho de Pombal e grande investimento no Parque Industrial Manuel da Mota, em que um privado, o Sr. Manuel da Mota, conjuntamente com a Câmara Municipal, deram as mãos e através da disponibilização de 82 hectares de terreno, a Câmara Municipal levou por diante o que é hoje já uma realidade - o Parque Industrial Manuel da Mota - onde diversas empresas, aproveitando a situação geográfica de excepção em que Pombal se encontra, em relação às grandes acessibilidades, quer rodoviárias, quer ferroviárias e a proximidade que tem com os portos de Lisboa, Leixões, Figueira da Foz, Aveiro, permitiram que do estrangeiro e nacionais, diversas empresas procurassem Pombal para investirem e assim, hoje temos as unidades de japoneses, franceses, alemães, espanhóis, finlandeses, holandeses e islandeses que acreditaram em nós, acreditaram no Município, acreditaram nas pessoas e nos trabalhadores desta região e paralelamente a isso tudo, da parte do Município, não só se fez o investimento na zona industrial, como também se criaram estruturas de formação profissional que é o caso da Escola Tecnológica Artística e Profissional de Pombal, onde estão neste momento a terminar o seu curso alunos e alunas, na área da electrónica, confecção, pintura e decoração de cerâmica e azulejo e na área da gestão empresarial - gestão de empresas. Estes alunos irão efectivamente ser uma grande mola para o desenvolvimento equilibrado da parte económica e esperamos que os futuros cursos da Escola Tecnológica tenham um papel importante, na qualidade das produções que as empresas vão levar por diante. A Escola Tecnológica visa essencialmente a formação de quadros intermédios, julgo que os objectivos estão a ser conseguidos e os parceiros que são o suporte jurídico dessa escola são a Autarquia - Câmara Municipal e as Associações Económicas da Indústria e do Comércio, pensamos que deste conjunto de iniciativas resultaram efeitos benéficos, sobretudo, fixando as pessoas mais jovens às terras onde nasceram e dando-lhes possibilidades de encontrarem localmente um posto de trabalho, embora, tenhamos verificado já no segundo período da década de 80 e no início da década de 90, um factor migratório mais preocupante do que aquele dos anos 60, é que face e mercê de alguma dificuldade na área do primeiro emprego, muitos jovens com o 9º ano, procuram a emigração temporária e sazonal, trabalhado em países da Europa nomeadamente, Suíça, Luxemburgo, e até o sul da França, emigração essa que é preocupante, na medida em que, já é uma mão-de-obra que em termos de formação escolar já está para além daquilo que era normal na onda migratória dos anos 60, em que emigravam analfabetos ou pessoas com a escolaridade mínima, o que é um tanto ou quanto complicado, porque a sua saída sangra ainda mais o mercado de trabalho de jovens.
(continua)


quinta-feira, 29 de outubro de 2009

[00008] Emigração em Pombal (continuação de estudo anónimo e sem data)


Entrevista com Ex-emigrante, em França, de Pombal

A verdade nua e crua, o contacto directo, as subtilezas de uma vida de trabalho... lá longe. E também a confusão das novas realidades, as mudanças e o relembrar de velhos tempos que já não voltam. Uma entrevista muito peculiar com um ex-emigrante em França.

ENTR: O Sr. acabou de regressar de França. Como foi a sua partida para França? Em que ano? Em que condições de trabalho e acolhimento? Pode relatar-me como tudo se passou?

Ex-Emigrante ( E E ): Bom... parti para França em 1974, tinha na altura 15 anos. O meu pai era emigrante também em França. Eu e a restante família - irmãos e mãe - vivíamos aqui em Portugal.
Entretanto a minha irmã casou e foi para França com o marido... Eu por várias vezes já tinha pedido ao meu pai para me levar com ele, só que ele nunca aceitou!...
Entretanto, há já alguns anos que estava empregado, era mecânico, e numas férias resolvi ir até França.
Sem que o meu pai soubesse, arranjei um passaporte e, um dia, fiz-lhe uma surpresa!... Inicialmente, a minha intenção era ficar lá somente nas férias, mas rapidamente me convenci que o melhor era ficar lá definitivamente. Lá via melhores perspectivas para o meu futuro, desde logo económicas, que me permitiam chegar mais rapidamente ao meu carro, à minha casa, a outros gastos pessoais. etc...
Acabaram as férias, vim a Portugal, regularizei a situação com o meu patrão e algumas semanas depois fui para França. Nos primeiros tempos fui viver com o meu pai e trabalhava na construção civil; meses depois arranjei trabalho como mecânico numa oficina de uma marca bastante conhecida e fui na altura viver para casa da minha irmã e, finalmente, depois de estar um pouco mais orientado ( e porque já não tinha grandes problemas com a língua) arranjei uma casa e fui viver sózinho...

ENTR:  Mas a sua entrada em França, apesar de ter passaporte, era clandestina, desde logo pelo facto de ir trabalhar e depois porque ainda mão tinha atingido a maioridade. Não teve problemas com as autoridades francesas devido a essa situação?

EE: Sim, sim... a minha entrada em França foi clandestina e mantive-me clandestinamente até 1981. É que, só passados cerca de 7 anos é que consegui regularizar a minha situação e a partir daqui comecei a obter outras regalias, numeadamente da segurança social...

ENTR: Não teve problemas com as autoridades?

EE: Bom... é claro que as pessoas nunca andam descansadas... Eu pessoalmente não tive grandes problemas...

.ENTR: Quais as actividades, profissões, a que os emigrantes normalmente se dedicam? . .

EE: As actividades dos emigrantes, normalmente, são a construção civil, estradas, esgotos, jardins... depois temos mecânicos bate- chapas, pintores... alguns trabalhadores agrícolas, outros que já se estabeleceram por conta própria com o seu café ou restaurante ou mesmo oficina, enfim... São normalmente estas as actividades dos emigrantes... Há depois um ou outro que tem uma profissão de nível superior, mas são casos raros.

ENTR: Um dos objectivos do emigrante é tentar amealhar o mais possível para que possa, num futuro mais ou menos próximo, construir a sua casa em Portugal, comprar o seu carro, dar formação aos seus filhos, ter uma conta bancária que lhe dê uma certa segurança... Em suma conseguir meios para satisfazer este leque de necessidades implica muitas privações?
Ou os níveis salariais são suficientes para se obter o que se pretende? É claro que isto depende de outros ractores, importa-se de fazer um comentário a tudo isto?

EE: Sim... Estes são os objectivos do emigrante, também foram os meus, e é claro que para se conseguir tudo isto são necessárias algumas privações e isso depende de emigrante para emigrante, de família para família. Há emigrantes que para conseguirem amealhar uns milhares de contos, terem um bom carro para vir a Portugal, terem cá uma casa, etc., etc... vivem em França em casas sem quaisquer condições, às vezes seis pessoas vivem em casas apenas com duas divisões, em condições pouco boas. Trabalham de dia e de noite e ao fim-de-semana se for preciso, vivem numa autêntica escravidão de onze meses sem divertimentos, sem passeios, com os mínimos gastos; para no Verão passarem um mês de férias em Portugal mostrarem aos seus conterrâneos e familiares um certo nível de vida, que para além de ser só nas férias é só aparência. Este tipo de vida encontra-se mais nos emigrantes mais velhos, porque os emigrantes da minha idade e os mais novos têm um tipo de vida diferente... divertem-se, passeiam, vão à discoteca, frequentam restaurantes... Têm casa em melhores condições, portanto, não são tão escravos, no entanto vão amealhando dinheiro e construindo a casa, comprando o carro (não tão depressa, possivelmente, como os outros), mas também não se deixam cair naquela escravidão de 11 meses como há pouco disse. É claro que no meio de tudo isto há sempre um caso ou outro de excepção.

ENTRE: Como é que o emigrante passa normalmente os seus tempos livres? Em festas inspiradas na Cultura Portuguesa, ou nem por isso? Convive mais com os emigrantes portugueses, franceses e outros?

EE: Isto também depende um pouco da idade das pessoas. O emigrante mais velho é mais~facil vê-lo passar o fim de semana numa festa portuguesa com outros portugueses, enquanto que os mais novos já vão à discoteca, convivem com outras pessoas, não só com portuqueses mas também com franceses e outros...


ENTRE: Podemos dizer que os emigrantes mais velhos preservam mais a cultura portuguesa que os mais novos? Dado que muitos destes a desconhecem, sendo os filhos da primeira geração de emigrantes e que nasceram já em França, ou então foram para lá muito novos, sem terem um grande contacto com determinados hábitos, tradições da cultura portuguesa

EE: Bom... os mais velhos dão mais valor à cultura portuguesa, por exemplo à tourada, aos ranchos folclóricos (há muitos ranchos folclóricos portugueses onde participam também os filhos dos emigrantes e muitos deles já são netos... ). Os mais novos talvez  não dêem muito valor porque, como vos disse à pouco,. não viveram muito a cultura portuguesa, porque muitos deles já nasceram lá e depois são mais novos e estão mais abertos a outros convívios e a outras companhias.
Mas, por exemplo, é normal encontrar os portugueses desde o mais novo ao mais velho, com cassetes de música popular portuguesa que é uma. coisa apreciada por todos.

ENTR: Caminhando agora para ,uma outra área, a área ..do investimento, parece-me que os emigrantes nao são muito receptivos a grandes investimentos. O investimento mais típico em Portugal, por parte dos emigrantes, são os cafés, os restaurantes, os andares, e muito raramente partem para um investimento ao nível industrial, que justificação apresenta para explicar tal facto?

EE: Sabe que os portugueses são muito agarrados ao dinheiro, eu tenho amigos e colegas, inclusivamente meus vizinhos, que têm aos 40 e aos 60 mil contos e mais parados sem fazerem qualquer uso desse dinheiro, nesta situação encontramos muitos emigrantes.Estes são portanto, os que não investem que ganham só para amealhar, para aumentar a conta bancária. Depois há aqueles que estão dispostos a investir em Portugal, só que não encontram grandes condições, é muita papelada e burocracia. Se de um dia para o outro precisa de um empréstimo não o consegue... enfim, há  muito emperramento a vários níveis -e-tudo acaba por desmotivar as pessoas (eu, pessoalmente, começo a ficar um pouco
decepcionado e desmotivado. .. ), é que as coisas em França são diferentes. É fácil criar qualquer coisa sem dinheiro, se for preciso consigo um empréstimo de um dia para o outro com juros de 9 ou 10%, em Portugal consigo passadas algmaas semanas ou meses; com juros a 30%. É por isso que muitos emigrantes que queriam investir em Portugal optam por investir em França e não em Portugal porque lá há melhores condições.

ENTR: Entretanto, regressou a Portugal defenitivamente, houve alguma causa em especial que o levou a tomar essa decisão?

EE: Bom...aquilo que fez com que viesse para Portugal, foi ter surgido a. hipótese de investimento aqui em Portugal, o avançar das coisas, começou a exigir a minha presença aqui. Eu e a minha  mulher decidimos então regressar definitivamente a Portugal.

ENTR: Uma vez chegados a Portugal, tiveram alguma dificuldade ou problema, nomeadamente com a legalização da vossa situação?

EE: Sim...Sim... uma das dificuldades é nós legalizarmos a nossa situação, é necessário muito tempo para tudo. Muita papelada, etc.

ENTR: E com a integração dos filhos no novo meio, nomeadamente scolar?

EE: Neste campo são muitas as dificuldades. A primeira é que não á equivalência aos níveis escolares, portanto o português e o francês, o que para os miúdos é pouco motivador porque em França estavam num nível, vêm para Portugal e dão-lhes equivalência num  nível mais baixo. Mas isto eu compreendo porque o que está em causa.:.é a língua :portuguesa  e eles sem saberem portugues não podem avançar.
Depois há outra situação que é ao nível das instalações escolares, culturais, despórtivas, etc., que não têm comparação com as de França. Lá, para além do horário normal de aulas, tinham natação, ténis, biblioteca; etc. . . E isto a cinco minutos de casa.. .. Aqui em Portugal tenho que fazer uns bons quilómetros para ter tudo isto. ,-Mas,- de qualquer modo, tenho que ter em conta que em França estava numa cidade e aqui estou numa aldeia e se mesmo em Portugal estivesse numa cidade também tinha acesso a todas estas regalias, enfim é um pouco relativo.


ENTR. Muito obrigado!


quarta-feira, 28 de outubro de 2009

[00007] Emigração em Pombal


Entrevista com o Gerente do Balcão do BPA, em Pombal.

ENTR: - Ao fenómeno da emigração está ligado um facto importante, que é a entrada de remessas dos emigrantes no seu país e concretamente na sua área de saída. Qual tem sido a política deste Banco no sentido da captação dessas remessas? Tem sido significativo o volume de entradas?
GERENTE DO BPA (BPA ): O - BPA é um Banco de captação de capitais no geral e também de capitais da emigração.
Este Banco, tal como os outros que existem no país, tem contas especiais para emigrantes, “Conta Poupança Emigrante". Pretendem atrair capitais - remessas dos emigrantes, emigrantes permanentes e que façam prova disso. Estas contas têm condições especiais, nomeadamente juros mais elevados, o que de si é desde logo um atractivo ao envio de remessas para o seu país de origem - Portugal.
O objetivo principal é captar o capital dos emigrantes, não só por uma questão social, dado que revela preocupação com uma determinada camada da população, mas também por uma questão económica, é que, a entrada destas remessas no país, permite a aplicação destes capitais noutros sectores e por outras pessoas, nomeadamente industriais, permitindo posteriores investimentos.
Em suma estes capitais vêm dinamizar outros sectores, concretamente na área de Pombal, o da construção civil e também, embora menos, a indústria.
Há também, e a nível nacional, no âmbito do mercado de acções, reserva de uma percentagem, não significativa, de acções a serem adquiridas pelos emigrantes.
ENTR: - Em que áreas - sectores - é que se verifica com mais significado a aplicação de capitais pelos emigrantes.
BPA: O emigrante quando regressa instala-se na sua terra e dedica- se numa grande percentagem à construção- civil, numa primeira instância à construção da sua própria casa e, posteriormente, acaba por se tornar construtor e, ainda no âmbito da construção, é frequente um investimento num andar na Vila ou Cidade mais próxima. Um dos sectores onde é frequente o investimento por parte- dos emigrantes é o sector do comércio/serviços, nomeadamente com a abertura de um mini-mercado e café na aldeia de onde saiu. Este tipo de investimento deve-se e justifica-se, desde logo, pelo nível de formação média dos emigrantes. É fácil para o emigrante investir na construção, no comércio/serviços e não noutros sectores, tendo em conta que a formação que é exigida, nomeadamente na indústria, implica uma maior e melhor formação média, o que não acontece com os sectores onde por norma o emigrante investe. O emigrante não gosta de correr riscos.
ENTR: Muito obrigado!

Nota da dona do Blogue: Esta entrevista é elucidativa da deficiente estruturação da nossa economia. Uma base de desenvolvimente comprometida na construção civil e empreitadas, leva, mais tarde ou mais cedo, à estagnação económica como tão bem, a recente crise, exemplificou.

[00006] Aviso à Navegação

Algumas transcrições são feitas a partir de originais defeituosos, sujos, manchados, amarrotados ou até rasgados. Daqui ocorre haver muita informação truncada.
No texto que estamos seguindo há mais de oitenta páginas em falta e muitas em mau estado.
Alguns documentos são provenientes de lixeiras e vazadouros, tanto deste concelho como de outros em que já vivi ou passei.

domingo, 18 de outubro de 2009

[00005] Adeus Pombal...

O município de Pombal caracteriza-se por ter uma forte tradição emigratória, de que se destacam alguns períodos que apresentam um número de saídas particularmente significativo, verificando-se também, ao longo dos anos, uma alteração dos destinos desta emigração.
Apesar deste estudo se localizar num período posterior a 1960, não se deve deixar de salientar a importância de um período anterior a esta data que coincide com o movimento emigratório para o Brasil, que assume particular relevo neste Município desde o início do século até finais da década de 50 ( como se pode comprovar pelo quadro da página seguinte ), altura a partir da qual este movimento começa a ser substituído e superado pela emigração, que então se começa a verificar, para França.
Embora com algumas oscilações, o movimento emigratório para França destaca-se, desde logo, se compararmos estes números com os referentes a saídas para outros países; nomeadamente o Brasil, os E.U.A., o Canadá, a Venezuela e a Alemanha, em período idêntico. Este fluxo emigratório atingiu o seu auge no período de 1965 a 1969, com 7297 saídas legais, para no período seguinte ( 1970 a 1974 ) baixar para cerca de metade, altura em que a emigração para a Alemanha também começa a manifestar-se de uma forma crescente, embora, com muito menor significado do que a verificada para França. Todos estes factos são confirmáveis no quadro da página seguinte, no entanto, todos estes valores seriam completamente modificados se fosse considerada também a emigração clandestina. Assim, no período de 1960 a 1974 verificou-se um elevado número de saídas cujo destino foi essencialmente a Europa ocidental ( nomeadamente França e Alemanha ), tendo sido muito menos importante o número de saídas para países de outros continentes.
Desde então até hoje, a tendência da emigração tem sido no sentido decrescente, apresentando a partir dos anos 80 outros destinos, sendo a Suíça o principal país acolhedor da emigração sazonal que se verifica no Município.

EMIGRAÇÃO EM POMBAL SEGUNDO OS PAÍSES DE ACOLHIMENTO ENTRE 1955 E 1974
TOTAL * Fuga à Guerra Colonial

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

[00004] Emigração Pombal

A partir de 1974, apesar de existir ainda um elevado número de emigrantes, os. indíces emigratórios baixaram consideravelmente apresentando-se actualmente uma emigração ( cujo principal acolhedor tem sido a Suiça ), com características diferentes que representam a chamada "emigração sazonal", que se caracteriza por uma saída temporária das pessoas que normalmente saem do país com um contrato ou se dispõem a "fazer a época das colheitas", emigração esta que não deixa de ser tão ou mais preocupante do que a verificada até 1974; já que para além de sairem trabalhadores qualificados os mesmos não contribuem para a riqueza do país. Finalmente, a persistência deste movimento, que com o decorrer dos anos diminuiu consideravelmente, acabou por se repercurtir em diferentes aspectos da sociedade portuguesa, que têm a ver com a canalização de remessas para as áreas de origem dos emigrantes; com perdas significativas de população que na década 60-70 foram característica comum a todo o país, com a alteração de um conjunto de valores, com a adopção de hábitos e estilos próprios dos países de acolhimento que, muitas vezes, são trazidos para Portugal repercurtindo-se posteriormente a outros níveis, nomeadamente culturais e paisagísticos.

Nota da proprietária do blogue:

Estes dados estão necessariamente desactualizados.

Os anos de 90 e primeira década do presente século, vieram repor muitos dos números da época 60/70, com a particularidade do aparecimento do fenómebno novo, para a cidade e para o país, da imigração que parece, por enquanto, atigir ainda uma percentagem menor que a emigração, embora com resultados já significativos, em algumas regiões, de aumento da natalidade, dada a juventude e a fertilidade pos povos que nos procuram e se vão integrando na nossa sociedade.

(continua)