Entrevista com o Presidente da Câmara Municipal de Pombal (Dr. Armindo Lopes Carolino).
Continuação
ENTR: Não podemos entender isso como uma consequência da entrada na Comunidade Europeia, dado que há uma maior liberalização das fronteiras?
A.C.: Não. Eu penso que não por isto: é que a entrada na CE dará teoricamente, as mesmas condições a qualquer trabalhador proveniente dos Doze, no caso destas ondas migratórias e quem falava com eles sabia, que na realidade eles e elas não tinham as mesmas condições que os naturais desses países; por outro lado, e porque a Suíça, que era um dos locais de destino mais privilegiado por estes grupos de jovens, como sabe ainda não aderiu à CE e, portanto, não está obrigada a cumprir e a satisfazer todos os direitos que teoricamente o cidadão europeu goza em qualquer país da Comunidade Europeia.
ENTR: Ainda voltando um pouco às preocupações por parte do Poder Local, no mandato que está a decorrer e que tem como líder o Sr. Presidente, todo o desenvolvimento e as preocupações com determinadas infra-estruturas, nomeadamente, água, saneamento, etc... também directa e indirectamente têm contribuído para a fixação da população, dado que é criado um conjunto de condições que faz com que as pessoas se vão sentindo bem nas suas terras. Concorda?
A.C.: Sim é verdade, que as melhores condições de vida, as melhores hipóteses de construção de postos de trabalho que não se verificavam há décadas atrás, começaram a levar as pessoas a poder fixar-se melhor e a usufruir de uma qualidade de vida que há 10 ou 20 anos não era possível e que portanto se ia procurar noutro lado e hoje também o facto de pertencermos à CE, onde como parceiros comunitários somos obrigados a cumprir regras que são efectivamente regras de ouro da CE, no sentido de todos os cidadãos terem um tratamento idêntico perante a lei e perante as condições de vida. Foram efectivamente factores que influenciaram decisivamente, também, a fixação das pessoas, porque se as pessoas hoje disponibilizam de determinadas infra-estruturas que lhe facilitam a qualidade de vida antes de abandonarem aquilo que já é seu e que é adquirido, deixando de algum modo ao abandono, para ir hoje procurar melhores condições de vida acaba por influenciar decisivamente em determinadas opções que as pessoas tomam na sua vida privada.
ENTR: Sr. Presidente, tem-se verificado, nomeadamente a partir dos anos 80, o regresso de alguns emigrantes. Que medidas têm sido tomadas no sentido da reintegração dessas pessoas, nomeadamente dos filhos dos emigrantes.
A.C.: Não- há um pacote de medidas específicas para resolver problemas de ex-emigrantes que regressam. Agora o que me parece é que exactamente essa criação da melhor qualidade de vida, o apoio que se lhes dá quando eles têm problemas a resolver junto Administração, para a abertura de uma casa comercial, de um restaurante, o acompanhamento através dos serviços técnicos da Câmara Municipal de Pombal, facilitar a esses investidores que regressam determinados apoios e sobretudo no caminho burocrático, ajudando-os a vencer determinados problemas e facilitando-lhes a vida sempre que possível, são medidas que têm influenciado também a parte do apoio da Câmara e o Poder Local às pessoas/emigrantes que regressam e têm de algum modo sido eficazes.
ENTR: A emigração marcou imensamente o Município a nível paisagístico, o que, aliás, podemos constatar fazendo uma pequena visita pelo concelho, ou seja, a adopção de um estilo arquitectónico que não se compadece muito com o estilo da zona. Neste momento sei que as coisas já não se processam com tanta facilidade. Quais foram as medidas que a Câmara tomou no sentido de exigir a estes emigrantes um certo rigor em termos arquitectónicos e adequação àquilo que são as exigências do município?
A.C.: Pensamos que houve uma época que em termos de construções marcou aquilo que nós chamámos - época da emigração. Os telhados inclinados, lembrando casas da Normandia, por causa da neve, telhados pretos, telhados recortados, os ditos "greniers". Nós, e vincada que estava esta arquitectura, começámos por fazer uma acção de mentalização, começando a chamar os requerentes que apresentavam essas soluções arquitectónicas e tentando de uma maneira pedagógica esclarecer que aquelas construções não eram adequadas ao nosso clima e à nossa zona, que nós tínhamos uma arquitectura própria. As pessoas foram começando a entender, e depois numa segunda fase, reunimos todos os técnicos inscritos na Câmara, dizendo que quando apresentassem soluções dessa natureza a Câmara dificilmente as aprovaria e através deste trabalho, que foi um, trabalho moroso, mas ao mesmo tempo um trabalho de resultados conseguiu que hoje praticamente ninguém apresente essas soluções, tirando um caso ou outro esporádico que aparece porque as pessoas não têm conhecimento destas regras ou porque ainda estão imbuídas de uma certa influência dessas casas que viram nos países de acolhimento onde trabalharam esses anos todos e quiseram de algum modo transportar para cá, para a sua terra, essas soluções arquitectónicas. Hoje, já não é vulgar entrarem pedidos na Repartição Administrativa de Obras Particulares da Câmara Municipal, onde as solicitações dessa arquitectura de emigração seja solicitada, pelo que me parece, realmente, esse período ficou marcado mas hoje já não temos problemas dessa natureza.
Continua
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